Em 1975, acompanhei de perto a instalação da Embrapa Soja em Londrina. Na época, eu exercia meu mandato como vereador em Cambé. Como muitos pésvermelhos, nascidos e criados sob o domínio da monocultura do café, eu não sabia da grande importância da soja. Observem a coincidência divina: apenas 94 dias após a inauguração da Embrapa junto ao Iapar, a grande geada de julho daquele ano devastou a cafeicultura do Norte e do Noroeste do Paraná
Mas a Embrapa Soja não chegou por acaso a então Capital Mundial do Café. Grandes municípios de outros estados também almejavam sediar esta importante instituição de pesquisa. O governador Jayme Canet e o Secretário da Agricultura, Paulo Carneiro Ribeiro, lutaram (juntamente com Raul Julliato e Florindo Dalberto, ambos diretores do Iapar) para que Londrina fosse escolhida.
A mudança para a Warta só foi possível devido ao apoio decisivo dos senadores José Richa e Fernando Henrique Cardoso - então líder do governo no Congresso. Eles garantiram o dobro do orçamento em relação ao ano anterior e também o acréscimo de quadro de pessoal. O governador Álvaro Dias asfaltou a rodovia Carlos João Strass e o acesso até a Embrapa; e o prefeito Wilson Moreira providenciou a central telefônica na Warta que beneficiou a Embrapa.
Em 1975, o Brasil era importador de alimentos. Produzíamos apenas 11 milhões de toneladas de soja, segundo os primeiros dados históricos do LSPA - Levantamento Sistemático de Produção Agrícola - do IBGE. Atualmente, a produção atinge 170 milhões de toneladas - um salto extraordinário que fez do Brasil o maior produtor mundial de soja. Isso só foi possível graças à ciência agrícola nacional, liderada pela Embrapa
A Embrapa Soja é hoje referência global no desenvolvimento de variedades adaptadas às regiões tropicais. Até a década de 1970, a soja era uma cultura restrita a climas temperados e subtropicais, acima dos 30º de latitude. Com pesquisa e inovação, os cientistas da Embrapa romperam essas barreiras, possibilitando o avanço da soja em áreas antes consideradas inóspitas à cultura.
Os resultados são impressionantes. Em recente comunicado, a empresa revelou que, “a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP-Soja) permitiu, por exemplo, a redução de até 50% no uso de inseticidas. Somente em 2023, essa tecnologia gerou uma economia estimada em US$ 25 bilhões, também graças à eliminação do uso de adubos nitrogenados”. Outro dado expressivo: a Embrapa Soja desenvolveu mais de 440 cultivares de soja e mantém hoje um dos maiores bancos ativos de germoplasma do mundo, com mais de 65 mil acessos.
Como deputado federal e economista, sempre atuei em defesa do setor agropecuário. Em 1996, tive a honra de relatar a Lei Kandir, que isentou as exportações de produtos primários e semielaborados do ICMS, fortalecendo a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional
Minha ligação com a Embrapa se aprofundou ao longo dos anos, especialmente através do diálogo com seus valorosos pesquisadores, entre eles o decano Décio Luiz Gazzoni - ex-chefe-geral da unidade e ex-diretor nacional desta instituição. Resultado do trabalho que fiz junto à bancada paranaense, conseguimos destinar R$ 11,4 milhões em emendas parlamentares à Embrapa no Paraná, beneficiando tanto a unidade de Soja quanto a de Florestas.
Diante de tudo o que a Embrapa Soja - e as demais 45 unidades da empresa - tem feito pelo Brasil, o mínimo que o governo federal deveria garantir é um orçamento robusto, capaz de manter e ampliar as pesquisas que sustentam a produção de alimentos, geram empregos e impulsionam nossa balança comercial.
Aproveito para parabenizar a Embrapa Soja pelos seus 50 anos. O trabalho desta instituição é símbolo de competência técnica, inovação científica e amor ao Brasil. É essa agricultura de alta tecnologia, desenvolvida com inteligência tropical, que nos faz caminhar rumo à soberania alimentar e ao protagonismo mundial.
Luiz Carlos Hauly é economista e deputado federal